Despojos

Deixo a vida como quem despe uma roupa surrada

Sem remorso...sem receio...

Jogada num canto...desbotada e suada...

Não há mais costuras a fazer...

Nem mãos sensíveis para o cerzimento

O escárnio brinda a nudez

Opera-se então o novo nascimento

Queimo então as poesias e lembranças

Na mortalha carrego a doce criança

Que sempre habitou meu coração

Mato enfim a cruel ingenuidade

A insanidade das horas secas

O meu recreio de ilusão

Dispo-me da vida sem saudade

Levantando o mastro embandeirado

Do branco mais alvo que as nuvens

Reguem meu pranto nos canteiros

Onde as flores que plantei se esparramaram

Mas queimem as lembranças

Todo o material derramado

O fogo só não consome a vida

Que está embutida nas lavras

Não há labaredas para consumir

O meu mar de palavras

Angélica Teresa Faiz Almstadter
Enviado por Angélica Teresa Faiz Almstadter em 01/07/2005
Código do texto: T30033
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