...e se lhe cortasse a cara?

Com navalha, com um daqueles pentes que cortam e deixam tudo avermelhado com requintes de crueldade?

E se lhe cortasse a cara com unhas que, mesmo curtas, fazem um certo estrago? Teria sentido a alguém [ou a ESSE em especial]?

E se expressasse todo o ódio, rancor e mágoa por meio de singelas e fortes palavras, talvez, a epifania dessa vida morna sairia do casulo, aceleraria-se.

Mas, pra quê? Por que precisa-se de alguma marca de agressividade explícita na pele?

E a navalha, hein?

E esta que corta o coração, divide-o em dois e depois sai pingando pelo asfalto, como resquícios viscosos de troféus?

Valeria a pena? Ou, melhor, valeu a pena? Hein? Você aí. É, você mesmo. Cadê sua navalha?

E, mais importante que o instrumento, onde está seu objeto de tortura?

Talvez nunca tenha saído daí de dentro, né?

É…é o que eu também acho.

E fechou o livro. Depois daquelas linhas, nada mais foi feito com ‘sem-gracisse’.

Nada mais foi feito.

Lorene
Enviado por Lorene em 30/05/2011
Código do texto: T3003238
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.