ESCÁRNIO
Parece fato que há enfrentamento. E é o que existe, pontuo. Parece precoce imaginar vísceras se entrecortando a partir de dois corpos. Seres inanimados? Jamais. Do contrário seria pedra, mortal, coisa que não somos. Do contrário, ainda, seria amorfo. O que tentamos [e por muito conseguimos] não ser.
Desnudarmos de rigores. Rigorosidades. Amenitudes. Rigor-formalis. Apreciosidades. Preciosas. Precocidades. Pré-co-cidades. Idades. Idades precoces. Vozes. Sentes?
Um véu que se mostra cada vez mais fraco, menos intenso, até. Resistências, renitências, penitências? Coerências. Vísceras. Vísceras. Vísceras. Sentes?
Termo malévolo: mostrar-se. Mostra-me o que tens em mãos, te direi quem és. Mostra-me o que tens por debaixo destes véus a que chamamos ‘tecido’ e, aí então, te direi quem deverias ser. Quem deverias mostrar. Mostre-se. A mim ou a outro qualquer.
Sinta que o necessário, aqui, é o nu. Aquele ‘a partir’ [a parir] que determina tanto e limita [quase] nada.
Arte?
Visual. Vislumbre. Sinta. Sentes?
Escolha não mover-se, se caso for. Mas esteja cônscio de que também não o fez. É também movimento. E, com todo respeito e cautela, meus parabéns. Não-movimento é mover-se a partir das ações de outrem. Fisicamente, você, em relação a ‘eles’ está em movimento. E aí? Te peguei nessa? Sentes?
Pense movendo-se em círculos. Difícil, não? Tão acostumado à linha reta, pedra filosofal. Sentes ou não?
Teu estômago te embrulha? Seria náusea? Seriam teus cérebro e coração movidos, deslocados, entrincheirados em um compartimento só deles? Esconde-se de quê? De quem?
Parece fato imaginar que o escárnio das tuas ações está aqui. Letras, linhas, versos até. Luzes. Fogos. Fogo.
Vês? Vê a ti e à toda a merda que compõe essa lamaceira de vida?
Não digo que devas, nu, sair à chuva. Mas, a si próprio, veja a nudez. A tua. Desnude-se a si. Produza a sua chuva. Sentes?
- PORRA. Sentes?