O sopro do vento forte
Sonho, sonho...
você é real, meu preto.
Te gosto, eu gosto do vento,
o vento sopra em meu espírito de criança.
Vejo seu rosto alegre, seus olhos de moleque,
eu quero segurar sua mão, forte, bem forte...
me abraça forte... meu bem,
me beija, me beija.
O vento é leve, forte e doce,
o sal do seu suor é gosto forte de desejo...
o desejo é forte,
a morte me adormece,
o sol me derrete, açúcar mascavo,
seu gosto me deixa louca, guerreiro bravo...
Eu te gosto, gosto da terra,
a plantação está em flor,
flor de fim de inverno,
fora do tempo eu floresci e sorri...
você beijou minha poesia
e as marcas ainda estão frescas,
a terra tremeu sob meus pés naquela noite,
e o gosto do seu beijo desceu quebrando as correntes,
desamarrando a minha escravidão.
Então, meu preto, árvores frutificaram no quintal,
flores voaram no vento forte de agosto,
a prata emergiu da terra,
um vulcão furioso fez-se sentir montanha abaixo.
Era o fim. Era o começo. Era o nada querendo falar.
O canto da bruxa cantou com vontade,
a vontade da bruxa se tornou sonho,
a bruxa do sonho se tornou criança,
o sonho da criança é uma ordem.
E a ordem é um caos.
O caos que veio e abraçou nós dois,
cortou os fios da minha vida (como moira)
e deixou, como lembrança, uma mancha no rosto.
Pra nunca mais esquecer.
E me empurrou para aquela esquina,
me desafiou grosseiramente,
me postou naquele canto,
chamou todo o exército para testemunhar.
O fim mais abençoado...
romper com o medo e a paranóia;
deitar-me, enfim, numa plantação de girassóis.
Tudo porque [você] olhou pra mim e sorriu,
sorriu no meu sonho,
sorriu no meu poema,
sorriu no meu domingo,
sorriu no meu aniversário,
sorriu na minha sala,
sorriu no meu sorriso e eu no seu.
Foi escrito num beijo e ganhou o céu.
Te gosto e eu te gosto muito, meu preto,
não deixe de sonhar meu nome,
não deixe de lembrar o que te disse
naquele breve momento.
Que eu durmo com teu riso,
sonho seu beijo e me deito no vento.