Deus existe?

Em quantas mentes lateja insistentemente a dúvida sobre a existência de um ser Todo-Poderoso! Esse tipo de pensamento por si só pode assombrar... Como imaginar um ser que não esteja preso a nenhum limite? Como compreender que alguém seja capaz de deter todo o conhecimento e todo o poder? Como entender a existência de alguém que sempre existiu e sempre existirá? Onde residiria aquele que arquitetou e construiu todas as galáxias?

Diante dessa possibilidade brota um sentimento de profunda admiração e reverência. Imagine se fosse possível comunicar-se com Deus e descobrir seus pensamentos! Suponha que nos fosse dada a oportunidade de buscar seu auxílio e orientação! Considere a possibilidade de que Deus estivesse interessado em abrigá-lo em uma mansão celestial e compartilhar com humanos mortais o dom da eternidade!

A reflexão abstrata pode gerar uma imagem mais tangível. Se Deus existisse, imagino que Ele jamais abandonaria as obras criadas por suas mãos. Provavelmente Ele transmitiria de forma clara - talvez até de forma escrita - os seus propósitos para com a vida humana. É de se pensar que Ele se mostraria acessível para nos amparar em nossas angústias e incertezas.

Suponho que Ele até resolveria fazer-nos uma visita para ver como as coisas andam por aqui. Entre nós, Ele poderia manifestar de modo claro seus poderes divinos e sua sabedoria inigualável. Nada seria tão interessante quanto se Deus vivesse por uns tempos na nossa pele a realidade muitas vezes cruel da existência humana.

Que incrível seria se Deus se tornasse como um de nós para que pudéssemos nos tornar mais parecidos com Ele! Que experiência única seria caminhar ao lado de Deus, ouvir suas histórias e até receber um abraço carinhoso do próprio Criador!

Muitos não resistiriam e certamente lhe suplicariam alívio para suas dores, cura para suas enfermidades e talvez até a dádiva de ter de volta um parente vitimado pela morte. Com apenas um toque ou uma palavra, Ele poderia deixar arregalados os cegos, ao tirar-lhes as vendas que os impediam de conhecer um universo de cores e formas. Ou faria saltitarem de emoção aqueles que nunca puderam caminhar pela vida por meio de suas próprias pernas.

Para Ele seria como uma brincadeira alimentar uma multidão faminta com apenas alguns pãezinhos. E se alguém tivesse o privilégio de navegar ao lado de Deus, não precisaria temer a fúria dos ventos e das ondas, pois certamente bastaria um comando Seu para abrandar as águas tempestuosas.

Se Deus viesse até nós, eu gostaria que todos O ouvissem com atenção e aprendessem com Ele como se constrói a paz com justiça! Teríamos assim a grande chance de extirpar o câncer das guerras, da corrupção, das intolerâncias, da miséria...

Acima de tudo, penso que Deus viria até aqui para entregar-nos a chave. Há quanto tempo se espera pela preciosa chave capaz de nos libertar do pior de todos os males, do peso fadigoso preso às nossas costas, carga insuportável que rebaixa o olhar antes confiante e digno. Nenhum esforço humano tem alcançado a tal chave que poderia quebrar as algemas impostas pela malévola culpa. Esta vilã tem levado muitos à depressão, ao tormento, aos vícios e até ao suicídio. Ela tira de seus indefesos adversários até o direito de morrerem em paz.

Só o Todo-Poderoso seria capaz de derrubar do seu trono tirano a mordaz perseguidora da consciência humana. Acende em mim a curiosidade de saber qual seria a estratégia fulminante que Deus adotaria para aplicar seu golpe mortal. É de se esperar que todos se juntariam ao Grande General para lutarem unidos contra o inimigo comum. Regozijo geral seria o despojo após a batalha de todos os tempos. Quem seria capaz de desertar ou de se rebelar contra o Único habilitado para comandar tal operação de resgate da dignidade humana? É difícil imaginar que alguém viesse a pôr em dúvida as credenciais divinas e tentar frustrar o magnífico plano de salvação.

Eu teria dificuldade em compreender, se me dissessem que asseguraram à vilã a coroa de ouro e ao herói a coroa de espinhos; que foram audazes a ponto de cuspir e bater na face dócil do maior apaixonado pela humanidade; que, sob os auspícios do respeitável direito romano, impuseram ao doador de toda a vida o veredito de ser expulso da face da terra embarcado numa cruel cruz.

Ou seria esta justamente a estratégia do maior de todos os justos? Qual juiz justo absolveria os culpados e condenaria os inocentes? Mas como ser justo, quando o juiz tem amor paternal para com aqueles que precisa condenar? Qual o pai que condenaria seus próprios rebentos? Que dilema implacável!

Com toda sua sabedoria, com todo seu senso de justiça, com todo o seu amor, Deus livremente aceitaria morrer no lugar que caberia aos seus amados filhos! Será que algum poeta já criou uma ficção similar? Será que algum herói humano seria capaz de tão elevado altruísmo? Será que seríamos capazes de compreender e aceitar tal ato encharcado de misericórdia, compaixão e amor paterno?

Ao derrotar a culpa por meio de Sua morte – destino de qualquer humano -, o divino ser nos surpreenderia duplamente. Nem a morte poderia roubar-lhe a divindade. Pois nunca se permitiu a ideia absurda de um deus verdadeiro derrotado pela morte. Cumprida a sentença justa no papel de substituto daqueles que o condenaram injustamente, Deus certamente romperia as portas sólidas do túmulo e irromperia com resplendor para revelar o que jamais um humano visualizou: a concretude da ressurreição.

Em sua plenitude de bondade, imagino que esse Deus presentearia seus algozes com a chance do perdão e lhes ofereceria o passaporte da ressurreição para viverem eternamente em seu reino iluminado e cheio de perfeição!

Felizmente...

Deus existe.