De manhã
Bem, como a rotina diária da viagem de uma hora e meia dentro de um ônibus não me cansa, eu olho tudo.
Eu apenas observo.
Eu vejo a cidade despertar;
Tal como uma meretriz em fim de noite
No céu ainda jaz o luar
A paisagem e o clima são quase um açoite.
Vejo a luz do cabaré acesa
Mulheres se oferecendo de bandeja
Luz vermelha por natureza
Um outdoor de banda sertaneja
Um menino que fuma crack debaixo do viaduto
Morrendo aos poucos,
Destino de muitos.
Matar ou morrer?
O jeito é vestir luto.
O lugar de becos e vielas
O cinza dos prédios imponentes
Que contrasta com as favelas
Todos pensam ser importantes;
Mas não passam de impotentes.
Um homem com algo na mão
Que não se sabe o que é...
Um homem que dorme no chão
Um homem que quer ser mulher.
E o ônibus vai correndo,
Vai seguindo seu caminho
Penso ser eu a correr ao invés dele
Deixando tudo, seguindo sozinho
Largar de vez essa vida que tinha
Investir em uma nova empreitada
Iniciar uma nova jogada,
E torcer para achar a minha
Minha querida, meu amor, minha paz
Você faz idéia de quanto bem me faz?
Por ti secaria o São Francisco,
Escalaria o Himalaia!
Enfrentando todo o risco.
Tudo isso sonda a minha cabeça,
Dentro do ônibus, indo para a Vila militar
E não importa o que aconteça,
A minha hora Há de Chegar.