DESABAFO DE DESPEDIDA
Quando eu não mais existir,
me procures nos raios do sol
que furtivos vazam pela janela,
pois eu lá estava, e tú não percebeste.
Quando eu não mais estiver e acordares,
Me procures nos lençóis e edredons,
na solitária mesa dos cafés das manhãs;
lá sempre estive e apesar de tudo
nunca fê-lo ou degustou-o comigo.
Quando eu não mais fizer parte de ti,
me procures em um ombro amigo,
ele continuamente esteve aí, sempre disponível,
mas você preferiu desprezá-lo do teu ser. Desfez.
Quando eu já não mais aqui viver contigo,
me procures nos pratos e talheres pra ti preciosos,
eles que raramente ficaram dispostos sobre a mesa,
porquanto tinha-os todos e optou em não usá-los comigo.
Quando eu desta casa daqui partir,
me procures nos lindos entardeceres,
os mesmos que antecedem o crepúsculo frio,
visto que, pior que fossem as noites gélidas,
sempre eu estava ali, e, você linda insinuante
não queria o meu calor. Gozava com o quieto cobertor!
Quando tudo se acabar, desnudando a vida,
e as névoas da realidade se dissiparem;
quando as portas atrás de ti se fecharem,
e os seu secreto recôndito se apagar,
lembrar-se-á de suas palavras dolorosas e néscias;
das minhas noites malfadadas e mal dormidas;
dos meus banhos desejosos por seu corpo;
das minhas várias e infindas tentativas fracassadas
em querer fazer amor contigo...
E eu ali ficando com o imo corroído e dilacerado,
igual um escravo comprando a sua paz mercenária.
Sim, lembrar-se-á deste homem visto por ti:
o ‘ crápula’, o ‘ranzinzo’, o ‘carrancudo’...
que, por conseguinte, pra você, em sua bela esquiva
era viável encapuzar-me e fazer-me tão desse jeito!!!...
Quando tudo se for; quando o ontem vir à tona e existir,
Me procures sim na minha eterna esperança;
Nas minhas várias e incansáveis preces à DEUS,
pois foi desse jeito que esse corpo aqui sobreviveu...
Rezando para um dia melhor... Lutando por um sonho!
Quando tudo se acabar!
Quando enfim eu aqui não mais existir!