CENA URBANA
Lílian Maial
Na turbulência das ruas,
a harmonia do caos emerge da sarjeta.
Pequenas folhas correm para o ralo,
como a acariciar granitos,
loucos em sua rigidez,
sofrendo com os bêbados,
as meninas de rua,
drogados,
corpos desovados.
O orvalho das manhãs
vem lavar o sangue das tragédias,
o desespero das ausências,
o silêncio dos ventos apáticos.
Na copa das árvores,
alheias a tudo,
novas folhas se balançam,
arteiras e ternas,
desconhecendo a lama,
o esgoto
e seu destino final.
O homem varre as folhas
no solo,
na cadência dos gestos,
selando o caminho das que foram,
horas antes,
alegria,
verde,
poesia.
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