Poeta Abstêmio
Era uma vez um poeta abstêmio.
Cru real e insosso.
Ciente da sua sina e do seu prêmio.
Viajar no ponderável,
Correndo de pés no chão
Trabalhando o mensurável.
Humano e ponto.
Sentindo o senso comum.
Do banal encanto.
Poeta do incontestável,
Da riqueza material,
Do mundo visível.
Caiu no mundo das letras,
E enxergou significantes.
Ignorou significados extras.
Preso a métricas, sílabas e tônicas.
Adquiriu título de especialista.
Buscando as perfeições harmônicas.
Fugiu de correntes abstratas.
Caiu no ostracismo.
Na solidão tateada.
Negou o alento da embriaguez,
Sóbrio encarou seu destino.
E radicalizou de vez.
Evitou duplos sentidos.
Sempre certo reto e invariável.
Na ciência buscou seus amigos.
Na metafísica se sentiu traído.
Em meio a dúvidas mil,
Sentiu-se absorvido.
Ateu, seco e falido.
Descrente do seu destino
Na sarjeta se viu perdido.
Enfim a morte. Não!
Outra figura abstrata.
Fadado a irreal imensidão.