O Tempo
. 1 .
Já tentaram verter-te em gotas
de areia;
ampulheta é o nobre aparelho
em que te semeia.
Te prrenderam nas paredes
tortas
onde viste o farfalhar das vidas,
idas e mortas.
Já te contaram por estrelas
brilhantes.
Essas constelações cravadas no céu icógnito só serviram para ser
cintilantes
Já tentaram contar-te hora e hora
com pedrinhas
que ficaram no chão sozinhas
e sem serventia
E já tentaram te vencer com viajens
do tempo
- só fluido nas paragens
do firmamento.
. 2 .
Oh, indestrutível fera
aprendeste a vencer
as ampulhetas do homem
Aprendeste a vencer
as paredes onde te puseram
e interferir no homem.
Venceste as estrelas
a que te equipararam
terno como as constelações.
Te reduziram às pedras
com que te contaram
mas que não puderam ser eternas
E além das estrelas
onde te lançaram
não venceste DEUS em suas posições.
. 3 .
Transcorreram-se os dias ensolarados
de um janeiro triste
de um caloroso fevereiro, e viste
as águas de março e o verão apagados
Em abril, maio e junho parece que sentiste
os invernos intermináveis, entediados
e os dias de mormaço esfumaçados
em que tua vida consiste
As primaveras trazem um sossego errado
de eras que passaram ao seu lado
pessoas até boas que deveras amaste
O outono frutifica colorificado
como as árvores de porte em riste.
Seu viver é dezembro chuvoso e ensolarado...