Tristeza

Em vista calma e campos sórdidos ao encontrar o céu,

subindo a montanha com o vento gélido no rosto.

De encontro à tristeza é este dia que decidiu não acabar.

Um mísero ímpeto de vida entre os sólidos elementares,

que julga o mundo tentando não desvanecer dos próprios olhos.

Que realidade é a que nos cerca se não podemos distinguir o que acontece nesse nosso existir?

É esta faca sorvida de manteiga quente entrando em meu coração,

é esta tristeza que existe em um universo paralelo,

e nas intersecções das membranas toca o vazio do ser, deixando-o cada vez mais abandonado.

Ainda que inventassem uma droga que nos deixássemos patologicamente felizes,

este metal não deixaria de furar nossos corações,

e nunca nos sentiríamos satisfeitos de viver.

É esta dor horrenda, gélida, pálida, enjoada, empoeirada.

É esta dor que mareja os olhos como vidro molhado em noite de inverno.

É esta vida que não deixa de ofegar um ar pesado e cheio de fumaça.

Não deixarei de viver.

Não deixarei de viver ainda que esta dor me leve a vida,

ainda que perca toda a luz de meu interior.