A lua.
Hoje, a lua atreveu-se a mostrar-se inteira...
Desenhou-se sobre o mar,
fugindo de nuvens que a escondiam.
Cheia como os corações que irradiam amor,
debruçou-se intocável por sobre as ondas que,
mais faceiras,
em prateadas espumas desencadeavam paixões
e exibiam-se sob aqueles raios
em fosforescentes misturas de azuis.
Não a vimos juntos,
mas senti que guardaste este momento só para nós...
Debatiam-se as últimas cores do entardecer,
como bailados desafiando a natureza
e ela, límpida, nua, grandiosa em majestade,
rompeu, finalmente, pelo infinito,
como a chamar poesia.
Despedia-se o dia para homenagear a noite.
Chamei as gaivotas no ocaso,
insisti para que desfilassem vôos,
em soberanas magias de homenagens ao pôr-do-sol.
Convoquei a brisa para desencadear um bailado
e reverenciar a lua.
Houve um choque entre a beleza do astro-rei,
que se deitava preguiçosamente num horizonte,
e da enamorada princesa noturna
que surgia plácida e meiga,
no oposto daquela imensidão,
já acompanhada por um séquito de estrelas brilhantes.
Deus permitiu-nos o espetáculo.
Eu no sul, tu distante em algum vento mais ao norte...
Como em oração,
extasiei-me à maravilha da criação
e pedi aos anjos que te trouxessem,
um pouco que fosse,
para compartilhar, em sonhos,
da caminhada que empreendi pensando em ti.
A areia riscou-se à minha passagem.
-Só ficaram as minhas marcas.-
As tuas, carregadas pela distância,
nem a saudade as trouxe...
Um dia, quem sabe, caminhemos juntos... (IDA)