(((((((((:::Vendo-me! :::)))))))))

Certa manhã ia eu pelo caminho, quando, gritei:

— Vendo-me!

As casas estavam fechadas ao sol do meio dia, e eu vagueava pelo beco tortuoso , quando um velho hesitou um momento, e disse:

— Posso comprar-te.

Uma a uma contou as suas moedas. Mas eu voltei-lhe as costas e fui-me embora.

Anoitecia ...Um gentil rapaz apareceu diante de mim, e disse:

— Compro-te com o meu sorriso.

Mas o sorriso empalideceu e apagou-se nas suas lágrimas.

E regressou outra vez à sombra, sozinha.

Eu rezava o padre-nosso que sabia,

A pedir, humildemente...mas ninguém me ouvia

E a minha voz crescia de emoção.

Mas um silêncio triste sepultava

A fé que ressumava

Da oração.

Até que um dia, corajosamente,

Olhei noutro sentido, e pude, deslumbrada,

ver a vastidão que finge de infinito

(Como se o infinito se pudesse ver!) —

O sol faiscava na areia e as ondas do mar

quebravam-se caprichosamente.

Um menino estava sentado na praia

a brincar com as conchas.

Levantou a cabeça

e, como se me conhecesse, disse:

— Posso comprar-te com nada.

E desde então sou livre,

e descobri o verdadeiro sentido de amar.

Fernanda Mothé Pipas
Enviado por Fernanda Mothé Pipas em 25/05/2011
Código do texto: T2991581
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