AMOR PLANTADO

No começo é uma mudinha

Cuidados básicos água sol terrinha

Vai crescendo espichando miudinha

O amor é igual vamos regando

Todos os dias pra não secar

Pra não morrer por dentro sangrando

Logo cria corpo tronco folhas

E vamos envolvendo-nos mais

Sabemos os seus segredos nas horizontais

Vêm as tentações da matéria animada

Há contornos formas e curvas folhadas

Belo tronco belo dorso sobre a terra espalmada

Já caminha sozinha verticalizada

Tal qual o amor enraizada

Envolvida pelo vento acariciada

Logos aparecem os seios em cacho

O cheiro da terra molhada

O cio da paixão na canção das folhagens orvalhadas

A mesma mão que cuida

É a mesma que enterra

Assim acontece com tudo que há na terra

Os dias passam tediosos

As folhas vírides amarelam no quintal

Renovam-se a cada desveste outonal

O momento é de renovação

Outras estações trocam de mãos

No peito não há mais raízes só saudade em esfoliação

Vão ficando nos troncos amores marcados

Amores escritos

E amores demarcados

A ventania sopra um hálito longínquo

Galopando sutilmente no lombo da saudade

Empalhados no formol da imobilidade

De onde saímos não mais volveremos

Todos os enredos andam pra frente

E nos arvoredos as frutas dissolveram

Em toda escolha

Existe uma conseqüência

E toda árvore deixa cair sua folha

A árvore e sua sombra já não mais importam

Despertei do sono anestésico onde sua seiva morreu

Tudo que Morfeu levou contigo dentro de mim amanheceu

No tronco dos aduladores há muitas plantas parasitas

Que ficam ao seu entorno

A energia é sugada sem que haja estorno

Tal qual o verdadeiro sentimento não há placebos

O arvoredo secou-se onde urge sua raiz

A dama alegre pode até mudar de vida

Mais jamais será uma ex-meretriz

Em toda a vida nunca haverá um final feliz...