O Filho do Homem

Quando morreste dependurado

Não poderias prever ou ter imaginado

O real tamanho do teu legado.

Clamaste por teu pai, já desesperado

Por que Ele tinha te abandonado

Tudo ruíra, tudo estava consumado

Teu destino, homem sem pecado

Com teu sangue fora selado.

Cumpriste o que lhe fora ordenado

Mas quem te ordenou? homem coitado

Quem te disse para ser flagelado?

Que eras um cordeiro a ser sacrificado?

Foi um pai ou padrasto malvado?

Foi um anjo ou o próprio diabo?

Quem te disse para nos salvar do pecado?

Teria sido Deus, teu pai idolatrado?

Ou apenas teu coração penalizado.

Viveste num tempo perturbado

Teu povo queria ser libertado

Concluíste que eras o messias tão esperado

Quem te disse isso? homem bem aventurado.

Tu, de fato, eras muito qualificado

Entendias o fraco e o marginalizado

Talvez foste o melhor ser gerado

Querias nos ver todos irmanados

Não aqui neste planeta conturbado

Mas num paraíso glorificado.

Viveste sozinho, não foste casado

Não tiveste filho nem afilhado

Não foste patrão nem empregado

Sequer provaste o gosto do pecado

Não te enquadraste, homem exilado.

Querias ver tudo mudado

Conforme haviam profetizado

Mas não percebeste, homem santificado

Que o homem não quer ser ajudado

Quer, sim, ver seus santos adorados

Para, depois, vê-los apedrejados.

Foste por um dos teus atraiçoado

Depois, julgado e condenado

Riram de ti enquanto eras assassinado

E sequer ficaste magoado

Tinhas um coração todo dourado

Mas terminaste crucificado

Morreste sozinho, homem fracassado.

Apesar do mundo continuar inalterado

Com o tempo foste revitalizado

Escreveram sobre o teu passado

Sobre cada parábola, cada milagre realizado

Disseram que havias ressuscitado

Passaste a ser o filho de Deus! homem mistificado.

O Império Romano, que tinha te ironizado

Tornava o teu dogma oficializado.

Mas tu exististe assim como contado?

Ou foste intencionalmente criado?

Um lindo conto para ser acreditado

Aquele que venceu a morte! homem idealizado.

Pergunto: até quando serás esperado?

Para o teu retorno tão aguardado

O dia que fundarás o teu reinado.

Pobres homens, pobres coitados

Esperam que um deus, um ser alado

Imponha-lhes a paz e o aprendizado

Que até hoje não puderam ver realizados

Até mesmo tu, homem esperado

Não poderás ver esse destino ser alterado

Porque esse reino dos céus, tão sonhado

Seria um arremedo, um reino falsificado

Porque não seria conquistado

Cairia dos céus, desabado

Como um decreto, por Deus firmado

Sobre todos os homens, humilhados.

Ah! Jesus de Nazaré, homem amado

Quiseste nos ajudar, foste bem intencionado

Mas tornaste o homem ainda mais resignado

Um consumidor ávido para ser explorado

Por teu nome tão comercializado.

Talvez fosse melhor que vivesses isolado

Sonhando com o que sempre tinhas sonhado

Sem nada nos ter ensinado.

Se apenas o discurso foi lapidado

Que tu, ao menos, homem iluminado

Tivesse um pouco da vida aproveitado

E talvez percebesse, homem endeusado

Que o bem e o mal, convivem lado a lado

Dentro deste nosso coração mal acabado

Porque a vida é desse jeito desajeitado.

E se a morte é um fato consumado

A vida é um tempo a ser experimentado

Neste mundo que é duro mas encantado

Onde nada se cria ou se perde: tudo é transformado.

É pena que não percebeste isso a tempo

Pobre homem enganado.