Maré

Tu, que passaste tantos verões,

Outonos, primaveras,

Por todas as estações,

O inverno agora esperas.

O inferno que chamas vida

Deu-te tudo e pede agora

Tua alma em ida

Para o céu, que já é hora.

Teu corpo velho e cansado

Não se aguenta mais em pé,

Cambalea de lado a lado

Se perde pela maré.

É maré dos seus olhos profundos

A alma que neles flutua.

Não sabe se raso ou se fundo,

Mas quer se lançar rumo a lua.