Pagãos II
A minha poesia é o eterno sofrimento
Instalado na carne do poeta
Disto se vale, alimenta e suspira
Inda que se cale
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Conheces quando a brisa chora sobre a relva
E, afagando da natureza a pele,
Canta nos ouvidos humanos uma melodia
Que não responde
Que se esconde
Conheces quando as montanhas se ajoelham
E os vulcões se recolhem
E, dentro do ventre da terra, fantasmas se exasperam
Conheces quando as baleias mostram a cauda em borboleta
E espalham n´água lágrimas de Deus
Conheces não
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Quando se caminha pela areia da praia
E se avista a onda se desfazendo em pequeninas
E a espuma cantando e retornando
Quando se vê a areia indo e indo
E levando as marcas
Quando se fixa o olhar no verde lá longe
Então se descobre
A inevitabilidade na linha divisória
Entre o saber e o não entender
Entre o conhecimento e o desconhecimento
Entre o nada e coisa alguma
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