Pagãos I

Não, eu não aceito que meu verso seja queixume

Mas um fino e afiado punhal de azedume

Que no meu cérebro se afunde

E que nos neurônios cause um mal tamanho

Uma chaga fatal aprofunde

E que o sumo da inteligência

Seja a palavra que confunde

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Uma mulher de costas sombrias

Cava o chão da própria vida

Não nota o silêncio do deserto à sua volta

Não vê o abutre que se acerca

Fere os dedos na pedra morta

Rega o solo ensanguentando-o

No fundo da terra escavoucada

Encontra uma boca sorrindo

A mulher se entala

Que boca era aquela de que se esquecera

Que boca é esta que lhe fala

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Impossível contestar, “todas as cartas de amor são ridículas”

Constrangedoras, e mereceriam ser queimadas

Todas as cartas de amor são feridas abertas

Pingos do mar, no navio, sobre a coberta

Vela em frangalhos, pendurada no mastro

Cartas de amor são espantalhos

São contundentes documentos

De demonstrações e de gestos

Da lividez dos pensamentos

Cartas de amor são como aves de rapina

Lindas, nas alturas

Perigosas, na ravina

taniameneses
Enviado por taniameneses em 21/05/2011
Reeditado em 21/05/2011
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