AMOR AUSENTE

Até te encontrar

Vou montar as estrelas

Pisá-las bem macio

Mais se não te achar em brancas nuvens

Puxarei os cílios da noite

E rasgarei seu véu

A procura de um papel

Que me escrevestes talhado a cinzel

Dizendo que quanto mais eu te perseguisse

Tanto mais tu sumirias pelo infinito do céu

Só que dizias no bilhete já amarelado

Que não descansarias enquanto

Eu sofresse sem o teu negro cabelo corcel

E só assim entendi que me querias no burilar do anel formatado

Contigo junto ao leito da morte apartado

Quando senti que escrevias pra mim

Eu corria perigo em te perder!

Porque eu ficaria com este mundo

E tu tinhas que antes de mim partir em silencio profundo!

É ruim pra quem fica e melhor pra quem parte

Se a morte é uma passagem

Se a vida é uma paisagem

Somos todos turistas em desditas prensagens...

Mortais em plenos vôos sepulcrais

Peixes presos em aquários terminais...

Quem nos pluga e com que autoridade nos mantém?

Somos reféns, somos líquidos seminíferos

Putricidas letreiros semi nús verbos de ar rarefeito!

Quero pelo menos amar-te por inteiro

Não admito à morte me transformar

Em carniça pro urubú embusteiro

Que do alto céu por interesse mesquinho

Se alimenta de cadáveres em mercados, seus adotados ninhos

Num furor estranho

Em que nos tornamos pastos de seus rebanhos!

As letras são estrelas sonhadas

Que só Amor verdadeiro escreve

No leito da mulher amada...