Eles estão aqui

Esse dia terminou

com um vulto imperceptível

chorando baixinho nas escadarias...

E uma música provavelmente revoltante

irritando os móveis e empurrando a porta.

A rua onde eu morava foi embora pra longe,

mas a árvore que eu não cuidei ficou no lugar.

Essa noite eu abri o portão verde...

e conversei com meu vizinho...

hoje eu cuidei da árvore,

hoje eu fui lá...

onde?

Não sei dizer.

Ontem, de manhã, eu voltei a viver,

mas acordei pra realidade,

abri os olhos para minha indefesa crueldade,

e vi que, na verdade, o tempo chegou.

Hoje eu vi a raiva andar de salto alto

e sonho se arranhar no asfalto...

Os joelhos pingando sangue

e as mãos se afundarem no mangue

sobrevivendo aos caranguejos.

Eu briguei com a lua...

é!

Ela queria conquistar o meu amor.

A minha amiga abraçou a lua nova,

que, apesar de nova, é como o passado

que só existe no pensamento da gente.

Quando eu queria chorar

eu vi a esperança acenar do outro lado do portão...

me convidava pra entrar,

pra voltar,

pra ser feliz.

Quando eu quis bater, eu me bati.

Quando eu quis gritar, fechei os olhos...

fiz de conta que não vi.

Mas descobri que perdi muito pouco,

quando aprendi a amar o universo

e corri atrás da minha rua,

do meu sentimento,

da consciência que o mundo não dá

mas cada um tem.

E nem me lembro se o dia começou

com um gato magro miando no muro

ou se a tarde foi completamente

pintada de cinza...

Na tela do pintor

a arte pertence ao vento,

no quarto mais esquecido

as luzes têm todas as cores.

Quem sabe, na verdade,

o que há atrás da porta?

Quem conhece a verdade

que se esconde no porão?

Os fantasmas rondam a casa

e possuem as mentes mais perturbadas.

Na casa do poeta,

eu só quero quebrar os espelhos...