O HOMEM DESMONTADO

O homem monta no cavalo,
mas o poeta o desmonta.
O rei é um homem como os outros:
há de morrer, há de sofrer antes.

Ninguém é superior aos outros:
teve a mesma origem,
tem as mesmas necessidades.
terá o mesmo destino.

O homem monta no cavalo,
fica acima dos vassalos,
mas, quando cair, veremos
a sua inopinada fraqueza.

O poeta, que é igual aos outros,
anota as singularidades
da majestade jogada
sobre o pó que cobre o chão.

Ao pó, o homem voltará,
uma vez que, de pó, é feito.
E sua pele branca, negra ou vermelha
será uma folha seca enterrada.

O seu sangue vermelho
estará desbotado, seco,
regando o chão dos pósteros;
sua beleza, o horror.

O homem sobre o cavalo
é Quixote sobre Rocinante,
apesar de sua coroa e medalhas
e espada embainhada.

Deus salve o guerreiro!
Deus salve os seus feitos!
Mas o que é o guerreiro
sem o cavalo e sem o poeta?