Ipê

IPÊ

Do fogo e da lama

Germina a árvore cerrana

Que desafia os limites

Entre vidas, germina

Árvore bendita

De casca grossa

De sombras retorcidas

Secas, de folhas finas

Árvore feia, magra

Estarrecida, prato predileto

Das formigas, do cupinzeiro

Que se forma em seu estreito tronco

Os pássaros te abandonam sempre.

Até que sem mais nem menos

Árvore feia, magra, contorcida

Se revira e retorna à vida

Do meio das brasas, do fogo e das cinzas

Perdida de sede, queimada, seca

Retorna e cresce como se apavorasse

Quem ousasse a olhá-la com indiferença

Ela venta, ela brota, ela nasce

Dela mesma, bendita árvore triste

Que não se entrega a tristeza

Bendita árvore feia que da secura

Da queima e da confinada feiura

Se torna, de repente, bela!

A mais bela, a mais linda, a mais pura

Das árvores, florescendo toda amarela

Roxa, rosa ou branca também

Não de um amarelo do medo

Mas de um amarelo de riqueza e de força

Roxa de santa, branca de deusa.

Árvore cerrana, bendita seja

Essa sua beleza que se expande da morte

Do instante e do de repente,

Tanto é que logo desaparece suas flores

E suas folhas verdes, como se elas

Nunca houveram estado aos nossos olhos

Acostumados com a cinzas

E que por isso nunca compreenderão

A verdadeira beleza de suas formas

Que por um pouco nos entrega delicadamente

Até mostrar-nos sem vergonha

E sem receio de se expandir totalmente

Pelos campos abertos, pelas estradas tortas

Beleza rara e efêmera

Assim viva e real. Árvore

Adrienne Kátia Savazoni Morelato
Enviado por Adrienne Kátia Savazoni Morelato em 15/05/2011
Reeditado em 15/05/2011
Código do texto: T2972142