Ipê
IPÊ
Do fogo e da lama
Germina a árvore cerrana
Que desafia os limites
Entre vidas, germina
Árvore bendita
De casca grossa
De sombras retorcidas
Secas, de folhas finas
Árvore feia, magra
Estarrecida, prato predileto
Das formigas, do cupinzeiro
Que se forma em seu estreito tronco
Os pássaros te abandonam sempre.
Até que sem mais nem menos
Árvore feia, magra, contorcida
Se revira e retorna à vida
Do meio das brasas, do fogo e das cinzas
Perdida de sede, queimada, seca
Retorna e cresce como se apavorasse
Quem ousasse a olhá-la com indiferença
Ela venta, ela brota, ela nasce
Dela mesma, bendita árvore triste
Que não se entrega a tristeza
Bendita árvore feia que da secura
Da queima e da confinada feiura
Se torna, de repente, bela!
A mais bela, a mais linda, a mais pura
Das árvores, florescendo toda amarela
Roxa, rosa ou branca também
Não de um amarelo do medo
Mas de um amarelo de riqueza e de força
Roxa de santa, branca de deusa.
Árvore cerrana, bendita seja
Essa sua beleza que se expande da morte
Do instante e do de repente,
Tanto é que logo desaparece suas flores
E suas folhas verdes, como se elas
Nunca houveram estado aos nossos olhos
Acostumados com a cinzas
E que por isso nunca compreenderão
A verdadeira beleza de suas formas
Que por um pouco nos entrega delicadamente
Até mostrar-nos sem vergonha
E sem receio de se expandir totalmente
Pelos campos abertos, pelas estradas tortas
Beleza rara e efêmera
Assim viva e real. Árvore