PRESSA CORROSIVA
Trânsito engarrafado exílios enlatados na carburação
A poucos metros de onde eu estava congestão
Ignorava apressado o corpo estirado no chão...
A buzina queria com o som empurrar sua marcha
Mais nada saia do lugar em sua insubordinação
Enquanto o lugar do estirado corpo
Estava na contramão da vida apressada
Todos no mesmo destino
Desatinados seres mortos pelo caminho
E o corpo estirado não mais voltará pro seu ninho!
Triste essa pressa que contamina
Sempre a mesma pressa assassina
Sempre a prece que parece que nada ensina...
Sempre esta histamina adrenérgica
Este passo a passo incontido, enlouquecido
Parece até que o mundo estará num minuto desaparecido
Onde estamos que planeta é este
Nem tempo de olhar pra trás de uma dor
A pressa está mais rápida do que se olhar no retrovisor
Tudo cresce rapidamente
É o sinal que cala e consente
Que uma luz não domina o gado do motor crescente
A triste caminhada de uma senhora
Que resolvera atravessar fora da vermelha hora
O caminhão diante do verde atropelou-a pra sempre
Pra que tanta luz no sinal
Se ninguém faz o sinal da cruz
Esta velha senhora agora amarela que nem cuscuz
Ignorados passos traçamos
São tantos os trajetos que sempre
Pensamos em voltar, até que de repente
O corpo se estende no chão deixando filhos e netos
Corpo estendido, fôlego sumido
Jornais velhos, cobertor entristecido
E no outro dia o mesmo jornal vende o vencido
O mundo é mesmo muito estranho
Alguns dizem, era chegada a hora
Mais ninguém morre pra saber se era agora.
Uma coisa é certa ainda que vazia
O que somos nós pedaços de terra e pó
Estendidos sem ar e sem poesia?
Como colméia o povo mais atrapalha que ajuda
Zunem em torno da curiosidade malsã
E o corpo como chã no osso do asfalto gruda.
A pressa é sempre a mesma surpresa
Recolhe no bote a apressada presa
Que troca a luz pelo choro da vela acesa...