ESCREVA!
23.09.2006.
 
 
Eu tenho que escrever
PÔR NO PAPEL
SUBALTERNO PAPEL
Parte de minha vida
O que me sobra de arte
Aquilo que me abala
Aquilo que arde
 
Eu tenho que escrever
É assim que a cama me expulsa
VÁ E ESCREVA
BORRE ESSE PAPEL
Escreva conhecendo quase nada do português
Escreva sem nunca ter lido qualquer poeta
Escreva para ti mesmo leres
Depois sinta
Depois sinta o que fez
Mostrou a todos suas imperfeições
Teus mais infantis propósitos e pretensões
Permitiu que outros tirassem suas próprias conclusões
 
Ponha Dvorák para tocar na hora
Perceba que tua loucura não vem só do álcool
Perceba que tua arte se desenvolve
PIORA
Perceba que está em tua cabeça o problema
Escreva, toque tua música
TUAS PERTURBADORAS MÚSICAS
 
Xingue os músicos
            os gênios
            os poetas
            os pintores
Considere-se o pior deles
Mas escreva
 
Desenhe teus sentimentos no papel, na tela
Expurgue teus males ao léu
Enfrente o inferno e o céu
Beba, sorva gole a gole teu fel
 
Você não é gênio nem burro
Se beber não escreva
 
Escreva ao som do violino
                           do sopro
                           do metal
Escreva com teu cigarro
              com tua lucidez
              com tua sóbria embriagues
 
Pense numa nova poesia como te estivesses na cama
Pense nesse novo dilema como te fosses um drama
Pense nesse tema como se pensa em quem se ama
 
Escreva com tua calma, com tua raiva
Vomite no papel teus descobrimentos
Imprima todos os teus desdobramentos
 
Escreva como quem grita
Escreva como alguém que está vivo e
EXISTE
 
Não te limites
Quem não compreender... quem sabe um dia
 
Escreva quando quiser expulsar
A cama te expulsa, faz pior
Tuas lágrimas rolam
Buscas na música alento
Deparas com um inferno maior
 
Acorde do sonho
Descubra teu dom
Sem medo ou acanho
Você sabe que é bom
 
Escreva sem pensar por que escreve
Mas pense bem e escreva
Escreva sem saber donde vem
Escreva sem saber pronde vai
 
Escreva porque és são
Escreva porque és louco
Mas vá: ESCREVA!
Escreva tua “flor da pele”
Escreva teu íntimo sentimentar
Teus pulsos e impulsos, libere
Abra as comportas quando transbordar
 
Ouça Dvórak para acalmar
Escreva só para você entender
Escreva para te amostrar
Mas escreva!
 
Vá até o fim da inspiração
Escreva com rima, sem rima
Com métrica, sem métrica
Aquilo que pensa, que acha, que sente, que vê, que toca
 
Contorne com letras os desenhos de teu imaginar
Assim eram-nos as nuvens e suas formas diversas na infância
 
Escreva depois de muito tempo
Escreva tudo que o papel aceitar
Escreva às vezes na urgência
Desloque-se contra o vento
 
Ouça Dvórak mais alto, mais alto, mais alto ainda
Exista na música
Te aches mais-que-perfeito
Afogue nesse VALÃO tuas imersões
Escreva direto, escreva direito
Pese tuas inconsequências
Mas dê sequência às tuas expressões
 
Viaje sem álcool, pós e ervas
Veja com olhos limpos como esse mundo é louco
Repare como as pessoas são superfícies
Escreva para os mortos
Escreva para ti mesmo
Escreva aos pobres mortais
 
Escreva sempre que a cama te expulsar
Escreva sempre que precisar
De dia, de noite, na madrugada
Sempre que o sono escapar
 
Ponha no papel, rabiscos que sejam
Escreva quando achar que é merda
Que feda!
Escreva quando achar que é arte
Que foda!
Escreva quando achar que é morte
Que sorte!
 
 
Marcelo Braga
Enviado por Marcelo Braga em 12/05/2011
Código do texto: T2965845
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