Marginal

manhã cinza enevoada

a cidade aquecendo os motores

Milhares milhões vão votam voltam

trabalhoi,emprego,roubo,escola

Milhares milhões cumprem sua obrigação

Desfio assuntos seculares em silêncio no meu carro

Velho carro desliza acostumado

Marginal

Fluxos contínuos de carros

Desejam o conforto apressado do emprego

nostalgizo café quente preto

e o movimento banal do vaievem

emprego-casa-emprego-casa

faz parecer que o tempo parou no meio

de uma frase

emprego minha paciência sobrevivendo ao tráfego

os carros continuam ávidamente

comendo espaço

cegos buscam a última migalha

de um sonho que era propaganda enganosa

subo o curso do rio rumando leste

velas soltas vento em popa

desafio o destino.

Eternas repetições?

Não creio

porque o movimento do meu carro

o rumo das minhas poetagens

nesse momento é todo marginal

não como pelas bordas;

frequento bordas insólitas

insólitas como a alma humana

desbordando vida rebelde aos borbotões

desafiando censuras cronicamente

anquilosadas

metaforizando e trocando tudo de lugar

marginal

margeio a mim mesmo

me driblo,caio sentado

levanto de novo

vidando dadas certezas

que só habitam as ausências

da marginal

odysseus
Enviado por odysseus em 12/05/2011
Código do texto: T2965690