Marginal
manhã cinza enevoada
a cidade aquecendo os motores
Milhares milhões vão votam voltam
trabalhoi,emprego,roubo,escola
Milhares milhões cumprem sua obrigação
Desfio assuntos seculares em silêncio no meu carro
Velho carro desliza acostumado
Marginal
Fluxos contínuos de carros
Desejam o conforto apressado do emprego
nostalgizo café quente preto
e o movimento banal do vaievem
emprego-casa-emprego-casa
faz parecer que o tempo parou no meio
de uma frase
emprego minha paciência sobrevivendo ao tráfego
os carros continuam ávidamente
comendo espaço
cegos buscam a última migalha
de um sonho que era propaganda enganosa
subo o curso do rio rumando leste
velas soltas vento em popa
desafio o destino.
Eternas repetições?
Não creio
porque o movimento do meu carro
o rumo das minhas poetagens
nesse momento é todo marginal
não como pelas bordas;
frequento bordas insólitas
insólitas como a alma humana
desbordando vida rebelde aos borbotões
desafiando censuras cronicamente
anquilosadas
metaforizando e trocando tudo de lugar
marginal
margeio a mim mesmo
me driblo,caio sentado
levanto de novo
vidando dadas certezas
que só habitam as ausências
da marginal