Acesa num furor de seiva transbordante,
Toda a multidão desgrenhada – fundida
Como a conflagração de cem formas selvagens
Em batalha – a agitar cem formas de folhagens
Disputa-se o ar, o chão, o orvalho, o espaço, a vida.
Na confusão da noite, a confusão do mato
Gera alucinações de um pavor insensato,
Aguça o ouvido ansioso e a visão quase extinta
Lembra urros de onça faminta
A mal ouvida voz da tremula cascata
Que salta e foge e vai rolando águas de prata.
Rugem sinistramente as moitas sussurrantes.
Acoitam-se traições à sombra
Penedos traçam no ar figuras de gigantes.
Cada ruído ameaça e cada vulto assombra.
Assim vão os cativos fugindo do cativeiro
O bando é numeroso. Vem de longe, no atropelo
Da fuga perseguida e cansada. Exitando em recuos
De susto e avançadas afoitas,
Rompendo o mato e a noite, investindo as ladeiras,
Improvisam o rumo ao acaso das moitas.
Vão andrajosos, vão famintos, vão morrendo.
Fica-lhes para trás, para longe, o tremendo
Cativeiro... e através desses grotões por onde
Se arrastam, do sertão que os esmaga e os esconde,
Da vasta escuridão que os cega e que os ampara,
Do mato que obsta e apaga os seus passos furtivos.