Velho Chico e Chico Velho
Bate o sol nas águas frias do Velho Chico
E outro Chico, a sua pele enfrenta o sol
Em outro nó, mesma corda, outro dia.
Em seu rosto, o suor e água fria.
Velho Chico e Chico Velho se misturam
Aflição, amargura, todo dia.
Vêm à rede outras sedes, mesmos dias.
Velho Chico Chora ao som do velho remo.
E o remo respeita o seu esplendor
Tu és livre, eu sei.
Tu és belo, eu sei.
Mas, tu choras todo dia.
Pois tu és vida
És morte
És transporte
E alegria
Chico Velho também chora o dia todo.
E dos remos vem os calos, a cada dia.
Vem o peixe
Vem a rede
Vem o anzol
Vem a canoa
E o nó que da garganta que não se sai.
Chico Velho te admira de Alagoas
Em outros banhados, vários chicos a te louvar
Levas a saudade desdentada do pau a pique
Quando tua magoa deságua sem parar
Velada por Alagoas e Sergipe
E vem o mar tão feliz a te abraçar
Cai o sol, no Velho Chico, à água fria.
Já é tarde e a canoa quer voltar
Mas o sol renasce todo dia
E o Chico Velho no Velho Chico vai pescar.