MISSISSIPI

Sou fiel depositária de uma colcha branca,

Feita de retalhos brancos – tiras longitudinais

De tecidos de diferentes texturas,

Caprichosamente emendadas.

De vez em quando, lavo a colcha,

Dobro-a e torno a guardá-la.

Seu dono está mais próximo do rio Mississipi

Do que de mim...

Quando partiu,

Deixou a colcha comigo:

— “Deixo-a aí!...”

O rio Mississipi corre

O meu pensamento corre

O meu cavalo corre...

Emendo tudo que corre

Que morre

Que não morre...

E ponho o nome de Mississipi no meu cavalo.

Que erro engraçado o de quem lia

“Maissaissaipai” por Mississipi...

Pronunciado em voz baixa,

Esse nome é um sussurro sibilante,

Um “psiu” ao vento

Para que deixe passar quem pensa

Quem não pensa

Quem tem pressa

Quem não tem

Quem ficou pra trás...

Com certeza, neste mundo de pó,

Ninguém está só.

Estamos todos ligados

Como retalhos emendados...

Euna Britto de Oliveira
Enviado por Euna Britto de Oliveira em 20/11/2006
Código do texto: T296077