MISSISSIPI
Sou fiel depositária de uma colcha branca,
Feita de retalhos brancos – tiras longitudinais
De tecidos de diferentes texturas,
Caprichosamente emendadas.
De vez em quando, lavo a colcha,
Dobro-a e torno a guardá-la.
Seu dono está mais próximo do rio Mississipi
Do que de mim...
Quando partiu,
Deixou a colcha comigo:
— “Deixo-a aí!...”
O rio Mississipi corre
O meu pensamento corre
O meu cavalo corre...
Emendo tudo que corre
Que morre
Que não morre...
E ponho o nome de Mississipi no meu cavalo.
Que erro engraçado o de quem lia
“Maissaissaipai” por Mississipi...
Pronunciado em voz baixa,
Esse nome é um sussurro sibilante,
Um “psiu” ao vento
Para que deixe passar quem pensa
Quem não pensa
Quem tem pressa
Quem não tem
Quem ficou pra trás...
Com certeza, neste mundo de pó,
Ninguém está só.
Estamos todos ligados
Como retalhos emendados...