AMOR CONDENADO

Se eu pudesse e fosse possível um tríplice mortal fazer

Eu entraria na tua boca e no trampolim de tua língua

Jogar-me-ia na piscina salivar do teu ser...

Morreria feliz me afogando em tua míngua

Já me anelo no porvir

Já voltei pro mundo

Saí de meu nauseabundo colorir

Nos sonhos de um vagabundo

Vejo-te me sorrindo

E eu ainda vendo tonto meu porvir

Estou tentando conseguir

O sol em minhas pálpebras se abrindo

A vida tem seus mistérios

Há modos distintos de ver

O átomo está em tudo sem critérios

Até mesmo nos jazigos dos cemitérios

Em tudo há transformação

As letras quando não embaralhadas

Não tem a força das letras vira um sopão

Assim como o verbo não emitido sem prumo

É manada sem rumo...

Estamos até mesmo no verme que rasteja

Tudo no mundo tem uma função

Neste maquinário da natureza

Nem mesmo o pulsar do sangue

Verseja sem precisar do coração

Em tudo Deus foi perfeito

Nós humanos adulteramos a programação

Como tudo no mundo não aceito

Mais forte se torna sua configuração

É noite a lembrança embasa a visão

Trancamo-nos dentro de nós em poesias

E sob o pó do porvir há uma construção

Abrimos as nossas manhãs como uma flor do dia

Não há nesta terra devoluta

O maior milagre do que a ressurreição

O beijo da morte é mais fácil de ser dado

Pra quem não luta mesmo que esteja condenado

Como Judas após ter se suicidado.