Pretos e Pobres
São pobres e pretos
pretos e pobres
na senzala hodierna
da preta e pobre favela,
parindo pobres e pretos
a margem da sorte,
a margem da vida,
tendo por sina
uma bala perdida,
uma súplica inouvida,
um lamento de dor.
Pretos pobres
e pobres pretos
não estão
no horário nobre da TV
mas na sangrenta,
preta e pobre página policial.
Mas racismo aqui não existe,
pobre e preto
deixa o gueto quando é carnaval,
ganha em dólar no turismo sexual.
Nessa terra
de belezas e hipocrisias;
hora ajoelha-se na igreja
outra baixa-se no terreiro,
uma vela no oratório
outra vai para a camarinha,
uma vez é do santo,
outra é do Orixá.
Mas pretos e pobres
Continuam pobres e pretos.