O vento dispersava as marcas das sandálias
O VENTO DISPERSAVA AS MARCAS DAS SANDÁLIAS
Rogério Martins Simões
O tempo gasta as estradas…
Alisa os caminhos
Varre as pegadas
- A sua bênção - minha mãe!
Peguei na enxada
e cavei um rego.
É tarde
e tenho águas por deitar…
Atrelo ao meu olhar,
que avança,
As levadas do desassossego…
- Que magrinho está o nosso filho!
A candura perdura quando os visito!
- Não tremas!, ainda te vais curar!
Agarrei no pensamento
e consegui debutar
nas bolhas da lembrança
(Não tenho artroses no pensamento)
Mas o poço secou lentamente
E os matos tomaram conta de mim…
Atrelei-me ao olhar
Recordei o sorriso
traquina de criança
Retomei o trilho
e lá vou eu a caminho
da horta distante…
Os meus pezitos tocavam ao de leve
nos caminhos,
Vinha o vento!,
E dispersava as marcas das sandálias.
O tempo varre as estradas,
Alisa os caminhos e apaga as pegadas…
Peguei na enxada e cavei um rego.
Tão tarde!, já não tenho as águas em sossego…
Ainda, assim, não perdi nas orvalhadas,
Que debutam nas bolhas da lembrança
O cheiro da urze e do jasmim
E com palavras ditas assim
Retomam, em mim,
um milho de esperança:
- Que lindo está hoje o nosso filho!
A candura perdura quando os visito!
- Não temas!, ainda te vais curar!
Recuperei o trilho e lá vou eu
A caminho da horta distante
Com a fé para reencontrar
Na sombra que avança
Os meus pezitos que tocavam
Ao de leve nos caminhos da lembrança:
Quando o vento vinha
e dispersava as marcas das sandálias…
Lisboa, 07-11-2008 0:15:00
(Registado no Ministério da Cultura
- Inspeção-Geral das Atividades Culturais I.G.A.C. –
Processo n.º 2079/09)