Ao guardião dos portões celestiais

“Como o ar para os pássaros ou o mar para os peixes, assim o desprezo para os desprezíveis”. (William Blake)

Subimos ao campanário e abri o barril safra 1801

Enchemos as taças e brindamos à arte e a poesia visionária

Eis que, em parte, enxergamos o inconsciente; fez-se real o imaginário

Vimos a mancha na reputação da humanidade, labéu e desdouro dos homens desarmoniosos, dos descrentes

Ignomínia e desonra, poder absoluto se consumindo em chamas

Hora do chá numa periferia fétida e úmida bem distante das gravuras em Westimnster Abbey

Intranquilas, flores envernizadas exalavam pela janela

Seu antiperfume; eram muitas, eram zínias amarelas

Como uma forma de desprezo e autoconfiança, delas

Já não precisam mais que as cheirem e são fiadoras de si mesmas

No largo jardim de lisonjas imune ao espetáculo de obcenidades estou

Assim como Blake, nesse sentido, sou romântico e vou...

... Cantando canções de inocência e experiências pela idade

E essas canções me apontam a Igreja e a alta sociedade como exploradoras dos fracos

Assim, pude perceber que minhas portas estavam apenas parcialmente limpas e

A imundície que me restou deturpava minha percepção, mas percebi o fantasma de Abel tranquilo pairando

Revelando-me os dois lados d’ alma hodierna

E o pobre que escrevia aquelas coisas estranhas mostrou-me a negação da realidade da matéria e da punição eterna

*A William Blake (28/11/1757 — 12/08/1827)

Marciano James
Enviado por Marciano James em 05/05/2011
Reeditado em 05/05/2011
Código do texto: T2951058
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