CHINELOS DE NERUDA
 


Invado quarto do Poeta:

Cama de casal
--mistério de musas—
Colcha
--quadrados, bordados, franjas—
Dois travesseiros
--suor, ronco,baba.
Adornos rasgam simplicidade.
 
Ali, bem ali,
Em mesa de cabeceira
—quase caixa—
repousam
 cansados chinelos
de muitas insônias.
 
Devagarinho,
Meu pés acariciam
Memórias alheias.

Cerro  olhos.
Ninguém me vê.

E lá vou , pela janela.
Poeta sussura,
Só para mim:
“Traz, numa concha,
esse Pácifico de  sonhos.”
 
Voltei.
Será?
Sinto ,no bolso furado,
Chinelos de concha

E acenos do Poeta.

 
 
 
 
  Imagens:  Vista do Pacífico, ao entardecer.
                  La Sebastiana, casa de Pablo Neruda, em Valparaíso, Chile.
                  Olhar sobre o Pacífico do morro da Escuela Naval, Valparaíso.  
                   Fotos da autora.

Ilram Rekrem
Enviado por Ilram Rekrem em 03/05/2011
Reeditado em 03/05/2011
Código do texto: T2946459
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