Viajante misterioso

Estiquei o máximo a visão para tentar mante-lo próximo

Mas estava tão distante e nem mesmo voltou-se para olhar

Seguia solene

O mesmo passo constante

Não sei como

Passara outras vezes por mim

Mas jamais o vira no sentido inverso

Por onde voltava

Se é que voltava

Isso eu jamais descobri

Nem sempre era fácil reconhecê-lo

Certas ocasiões vestia uma capa preta...luto pesado

Em outras vinha de verde...muito leve

Não fazia distinção entre o branco da paz

Ou o vermelho do fogo.

Dizia-se mesmo

Por alguns com quem dividi o caminho

Que a cor de sua vestimenta não era única

Dependia, isso sim, de quem olhava

Longos debates existiam sobre suas modas

Muitas vezes o vi passando, puxando um belo corcel

Não parecia desejar montar

Antes, talvez, oferecesse a montaria

Mas era certo que nada dizia

Viajante silencioso

E suas pegadas se apagavam à passagem

Não há quem distinguisse, ignorantes ou doutos

A sutileza de suas marcas na terra

Tão certo e confiante era do seu poder

Que havia quem jurasse que comandava o dia e a noite

Seguindo sem vacilar

Fazia escuro

Ou um luar prateado

Lançava farpas no caminho

Flores também

O saco imenso às costas

Para qualquer vivente pesado

O conteúdo especulado

Dizia-se sem entender

Que continha certos segredos

Lembranças, dores, saudades

Saco cheio de sentimento

E como as roupas

Também seu conteúdo dependia de quem com ele caminhava

Voltando-me mais uma vez

Para aquele horizonte infinito

Gritei para a figura embaçada

Que parecia um menino

Ou um velho guerreiro

Me dissesse afinal seu nome

Sem virar, talvez sorrindo

Gritou-me de volta

Que seu nome era Tempo.

Marcelo FAS
Enviado por Marcelo FAS em 02/05/2011
Reeditado em 02/05/2011
Código do texto: T2944936
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