Viajante misterioso
Estiquei o máximo a visão para tentar mante-lo próximo
Mas estava tão distante e nem mesmo voltou-se para olhar
Seguia solene
O mesmo passo constante
Não sei como
Passara outras vezes por mim
Mas jamais o vira no sentido inverso
Por onde voltava
Se é que voltava
Isso eu jamais descobri
Nem sempre era fácil reconhecê-lo
Certas ocasiões vestia uma capa preta...luto pesado
Em outras vinha de verde...muito leve
Não fazia distinção entre o branco da paz
Ou o vermelho do fogo.
Dizia-se mesmo
Por alguns com quem dividi o caminho
Que a cor de sua vestimenta não era única
Dependia, isso sim, de quem olhava
Longos debates existiam sobre suas modas
Muitas vezes o vi passando, puxando um belo corcel
Não parecia desejar montar
Antes, talvez, oferecesse a montaria
Mas era certo que nada dizia
Viajante silencioso
E suas pegadas se apagavam à passagem
Não há quem distinguisse, ignorantes ou doutos
A sutileza de suas marcas na terra
Tão certo e confiante era do seu poder
Que havia quem jurasse que comandava o dia e a noite
Seguindo sem vacilar
Fazia escuro
Ou um luar prateado
Lançava farpas no caminho
Flores também
O saco imenso às costas
Para qualquer vivente pesado
O conteúdo especulado
Dizia-se sem entender
Que continha certos segredos
Lembranças, dores, saudades
Saco cheio de sentimento
E como as roupas
Também seu conteúdo dependia de quem com ele caminhava
Voltando-me mais uma vez
Para aquele horizonte infinito
Gritei para a figura embaçada
Que parecia um menino
Ou um velho guerreiro
Me dissesse afinal seu nome
Sem virar, talvez sorrindo
Gritou-me de volta
Que seu nome era Tempo.