Nossos Cacos
Todo nosso caso de acasos
Deveria ser banhado por lágrimas e risos,
Beijos e abraços submissos
A essa coisa estranha que chamam de destino,
E não narrados pelos carros que nos atropelaram,
Nem pelos cacos de vidro
Que nossas faces percorreram e cortaram
Ao desintegra-se da vidraça da alma.
Faltou aquela melodia daquele violão velho.
Aquele pedido absorto atingindo a superfície,
Aquele sorriso torto fugindo
Da esquisitice de ser sincero.
Faltou o grito das estrelas,
A iluminação da estréia de nosso espetáculo,
De quando as trajetórias de nossos lábios
Se encontraram no primeiro ato.
Faltaram os cacos dos corações dilacerados
Se consolando no ventre da noite;
O gesto da carícia empática
Que há entre os desamparados.
Faltou realidade, faltou sonho...
Faltou o primeiro momento teu,
Momento meu de quando eu criei
Um mosaico com todos nossos cacos.
Sim...
Faltou o primeiro momento que se dissolveu,
Que o tempo rompeu,
Noite que amanheceu,
Sonho que se acordou,
A única lágrima brilhosa que escorreu.