BATALHA FINAL
BATALHA FINAL
(Goulart Gomes)
Se amanhã me condenarem à morte
ou se o Halley beijar sofregamente a Terra
quero ver por último o brilho dos teus olhos.
Quando a praia vier dar no meu quintal
e todo magma exsudar na minha sala
vou inalar profundamente os teus cabelos.
Quando toda lava do Vesúvio e
todo suspiro dos vendavais
assomarem à minha rua,
será no teu colo que estarei deitado
(des)esperando o último momento.
Ainda que todo o sal dos oceanos
e toda terra das montanhas
aterrissem no meu teto,
só teus lábios soterrarão meu corpo.
Os tanques cinzas do Tio Sam estacionarão no Abaeté
e ferirão o farol com seus punhais
mas eu estarei deitado
acima, abaixo, sob, sobre, ao lado
em você, de qualquer jeito,
quando todos se forem, míssil indetonado.
E quando os patriots e exocets desfizerem minhas nuvens
não haverá dia seguinte:
estarei no túmulo dos teus braços
explodindo em milhões de átomos, desintegrando:
o último soldado desconhecido...