BRUMAS DO TEMPO.
Que brumas são estas , do tempo?
que à medida em que passam
embranquecem os meus cabelos,
(e a isso não dou tanta importância),
mas que desfazem os meus sonhos,
e por isso não posso perdoá-las.
Em que navio ou barco eu me meti ainda jovem?
que navega por mares esquisitos
em que, eu não querendo e não querendo vê-las,
retornam para mim ondas e ondas de desesperança.
Poesias que recebi devolvidas como se fossem minhas
com as palavras que escrevi e não as escrevi por escrevê-las.
Que brumas são estas, ou são moinhos (de vento)?
que desfazem com mó pesada a simples flor que ao desfaze-la,
recompus em cartão de folhas e pétalas para ela amada,
sem perfume , é certo, porque mesmo sem perfume ou cheiro
recendia à brisa do deserto, como de outra vez foi dito,
falando que em suas mãos o universo ardia em óleo por inteiro.
Que brumas são estas, que escondem estrelas,
como se eu fosse cego ou não quisesse vê-las,
navegando em navio noturno, sem rumo sem a luz delas?
Que brumas são estas, que fazem do que escrevo um fardo
que hoje me cansei de carregar, mesmo só linhas escritas,
mas que sangram o coração e ferem como se fossem dardos?
Que brumas são estas, que sabendo, ainda pergunto por elas
por não as querer ou não querer estancá-las?
Brumas estranhas que não enevoam o mundo lá fora,
mas a mim, densas, se mostram ao escorrerem no espelho.
Que brumas são estas? Do tempo?....