Um ou outro - a narrativa de um desabafo alheio
*Ao caro amigo que me confiou contar suas angústias e a publicar essa singela síntese-crítica.
Não podemos ter nosso próprio espaço
Construímos alguma coisa na vida
Para nos orgulharmos, e assim,
Para frente olharmos num sentido
E buscar nos desenvolver em algo
Que nos seja importante
Aí vem um ou outro
E quer te dimensionar em parcos conceitos
Que adota de instituição qualquer que herda
Esta que arrebanha e corrompe os homens
Nietzsche diria: isso é um excremento!
Em tom pouco afável
Para não falar coisa impublicável...
Conheci um artista que pintava, esculpia e caricaturava
Tinha seu espaço e talento, seu público
E um ou outro vêm e diz a ele o que fazer
Como fazer e para que fazer
Mata o artista isso e Nietzsche está certo
Um outro que era músico,
Fazia suas composições, tinha estilo
E vem um ou outro e tenta lhe dizer
Que é mercado o que interessa
Que é o público, arrebanhado, que
Deve dizer-lhe se sua arte é boa ou não
Você é do tamanho da tua publicidade
É do tamanho dos acessos do seu site
É do tamanho do número de leitores
E de quem o leu e o apreciou
Que dispõem do seu tempo para lhe dissercar
É nossa prisão sem muros
O aprendizado e a troca não interessa
Nem os conhecimentos individuais e dos sentimentos
Nem da sua vida e das suas angústias e conquistas
Nem o compartilhamento de determinadas experiências
Nem a possibilidade do que a liberdade pode levar
Tem que gerar público, alguém tem que dar graças
Tem que cair nas graças de alguém
Tem que ser comercial!
E assim vamos escolhendo os nossos valores
E ainda me perguntam o que é ser grande ou pequeno,
Bom ou ruim. Eu que não respondo.
Digo: consulta um ou outro aí
Que tá na moda!
A gente é do tamanho do conceito dos outros,
Do público e daquilo que você faz
E dependendo do que faz e de quem acha o quê disso
Não interessa muito a natureza da sua obra
Se engrandece a humanidade
Se ela traz grandes inspirações
Ou ajuda a resolver grandes e pequenos problemas
Vale muito mais se é o que está na moda
Se agrada a fulano ou sicrano
E se um ou outro, qualificado(?), acha o trabalho legal
Tem que puxar o saco e agradar a gregos e troianos!
Algumas vezes ser inimigos dos gregos e dos troianos
Às vezes amigo dos dois, um por vez em cada espaço
Mas nunca ao mesmo tempo
Não tem meio termo
E assim a gente vai levando a vida
Vai variando de tamanho conforme as opiniões
Vem um ou outro e diz que
Um dia é herói, no outro dia vilão
Em um outro brilhante, num outro confuso
Um dia grande, e você amanhece
E já é pequeno demais pro teu espaço
Mas a natureza da bondade humana não interessa
A pureza e o louvor às artes da vida também não
Vale mais a posição política e o momento
Como diz o filósofo: isso é um excremento!
E assim vamos levando e aceitando a vida, e um ou outro
Nos dizendo se somos isso ou aquilo
Mas até quando?