Sentidos indigentes

Sentidos indigentes

Sandra Ravanini

Deixar-me ao mal das palavras reticentes;

o grito da eterna ferida, a exclamação,

induzindo àquela ira o eco da invocação,

esbarrando em meus sentidos indigentes.

Despertar a glória dos atos cinzentos;

se nem tudo fora colorido em tinta,

se todo fato derrama a vida extinta

em um passado aberto nesse hoje lento.

Invocar a febre do ressentimento,

revidando os ecos de outra ira indigente,

deixando a palavra à glória reticente,

libertando o mal ao eterno julgamento.

Deixar-me ao passado colorido em tinta;

se todo fato liberta a mágoa e o grito,

se nem tudo fora revidar a ira e o rito,

deixar-me ao passado, ecoando a glória extinta.

22-03-2011