Cordel

Rio das Almas Penadas,

chorosas águas passadas,

que já não movem moinhos

e nem refrescam

os homens sozinhos.

Navegam fomes

nas barrancas

dos Ribeiros;

navegam desejos

nas palafitas

dos Alagados.

Comida não há,

carinho não há.

Só a Carranca

do Destino

é que há.

Severinos de Cabral,

retirantes de Graciliano,

brutas penas,

das brutas terras

de Penas apenas.

- Poeta da corda

o que canta teu cordel?

- Coisa pouca:

o Rio das Almas Penadas,

as carnes talhadas,

as vozes caladas

e as vividas mortes

prolongadas.

Referência às obras de João Cabral de Melo Neto e Graciliano Ramos.