O que pode a palavra quando perde o medo

Num voou ao vento

a palavra vai

sem lenço e sem arrependimento

fazendo laços

lançando idéias

juntando frases e rimas

o poema nasce, não tem jeito

e já se descola de quem o cria

ele não tem endereço

caminho ou direção

depois que plana não tem volta

nem mais pertencimento

se atira do alto ao fundo

inconsequentemente

sem pára-quedas

nele tudo cabe:

o possível

e o transcendente

o que não existe e o aparente

o dentro

e o distante

o amor sem medo

o enredo desconexo

a receita

e o imprevisível

na linha reta da rima marcada

ou no desconexo dos versos livres

ele se insinua a qualquer um

a qualquer pretexto

quer dizer tudo

e entender o mundo

delirentemente

dizer muito diretamente

e muito mais

na entreteletra, na entrelinha

entre

quer ir além do possível e da imaginação

imprevisível

sem medo do ridículo

o poema se lança no abismo

no infiito

enfim livre

pra quem quiser fazê-lo seu...

afinal, o que é o poema senão a palavra ousada

descolada

lançada ao vento

destemida.

E o que não pode a palavra se ela perde o medo?