Guerra

Não

sou uma boa companhia pra mim mesmo

Nos meus triunfos e raros dias de glória

Não valorizo

Não

Me defendo quando me atiram pedras

Peço mais

Glória a meus perseguidores

(Dos quais o maior de todos sou eu)

Não

Confio na minha intuição

Sempre acho que no fundo aquela pessoa

É uma pessoa boa

Me desacredito

Não

Me socorro

Quando a angústia aperta

E o peito parece que vai estourar

Me desacredito

Nos festejos do final da guerra

Me desconvido.

Despojos dos inimigos

Me excluo

Não estupro suas mulheres

Não faço de seus filhos escravos

Não chacino seus cães

Não saqueio seus últimos trocados

Não

Vou à praça pública assistir a guilhotina

Ou aos diferentes serem queimados vivos

Me desautorizo

Não vou com os amigos à taverna

Me desconvido

Não sei contar piadas

Não acho nada engraçado

Sistemáticamente me persigo

Pelo fogo da noite

Cada grão de prazer mendigo

Mendigo a mim mesmo

Mendigo

Não me flagro nunca

Desencontro-me

Nunca fui derrotado por qualquer anjo

Mas ainda assim sou coxo

Não me surpreendo

Não me surpreendo torturando a mim mesmo

Covarde fujo de mim mesmo

Nego a mim o melhor combate

Me escondo

Não me dou folga

Sabe lá do que esse monstro seria capaz?

Não me cuido

Rastejo noturno rondando minhas

Próprias portas

Cão

Me faço de mim mesmo

Cão

Não permito socorro

Deixe de queixume!

Construí a jaula mais forte

De sorte que eu sempre

O que faça seja me ferir nas grades

Me ameaço de extinção

Bicho estranho

Aberro em circo imundo

A berros me expulso do templo

Desoriento meus cuidadores

Me escasseio

Nômade,errante,estrangeiro,ronin,imigrante,minoritário

Nada há que descreva o quanto me vejo estranho

Estranho

Tentativas de carinho

Guerra sem fim

Guerra

odysseus
Enviado por odysseus em 25/04/2011
Código do texto: T2930132