Recanto Sagrado da Luz
Por que me arde essa matéria insana
a seduzir-me por largos caminhos.
Por que nas veias não me corre água
ao invés de sangue.
Somente um ente sou. Como tantos.
Cria da terra
Caminhante
Sal e água. Argila e pó
Suor.
Por que me bate essa sensação de abandono.
Rio sem foz.
Pássaro sem voz.
Mata densa.
Há uma luta sem trégua.
Uma entrega.
Sentimentos de que algo faltou
quando o rio secou.
Angustiado, rego o terreno,
freio a mente. Tomo posse
das armas da mariposa
de encontro a luz.
Não queria ter esse lado humano.
que corre contra o vento,
que esmurra o ar
enquanto dorme.
Sons se multiplicam
permeando minhas entranhas.
Uma voz que me diz
por onde seguir. Aonde ir.
O caminho é estreito
e eu que queria voar.
O silêncio se faz
e eu queria gritar.
Sonhos se desvanecem.
E eu quero sonhar.
O desejo contido
de querer te abraçar.
Caminho por matagais.
A vida não é só o pão
nem o aperto de mão
Preciso mesmo é de paz.
Há um força maior que a minha
na prateleira da vida..
O recanto sagrado da luz
onde me refugio.
Paulo Salles
Poesia publicada no livro "Horas Verdes" - 2009