COVARDIA

Se eu sei, por que não digo?

Por que não abro teus olhos

para a vida, aí, à frente

que, risonha e indiferente,

move os sóis do Universo

e a nós abandona dispersos,

espalhados pelo mundo

como filhos renegados

de casais que não se uniram

e, ainda, dormem separados?

Se eu sei, por que não digo

que nem tudo se resume

ao odor do teu perfume

que esparges, complacente,

quando junto a mim te deitas

nas madrugadas rosadas,

torso nú, olhos ardentes,

boca fresca e sequiosa

pejada de frutos maduros

que me ofertas, generosa?

Não digo porque tenho medo

de não suportar o teu grito

dissonante, alto, aflito,

envolto nas sombras da dor.

Não digo porque tenho medo

de olhar teus olhos puros

e vê-los toldados, escuros,

despidos de luz e de cor.

Não digo porque tenho medo

de quebrar nossa amizade.

Não digo porque... sou covarde.