SER POETA
Um dia, ainda rapaz de adolescência no semblante
eu cismei que podia ser poeta
Precisão de arrumar namorada, eu acho
Danei de compor versos tortos em linha reta
Achava que métrica era isso
E era toda vez que me assanhava pro lado de uma menina
Podia gostar dela ou não, o negócio era mesmo impressionar
Importância de lhe entregar umas rimas num pedaço de papel
enfeitado com cores e desenhos de flores ou de bichinhos
Eu vivia falando de dores e de amores
Das vontades que eu sabia e das que eu não sabia também.
Fraude pura?
Sei lá, tinha hora que era, tinha hora que não.
Tinha umas moças que ficavam comovidas
Não sei se de vontade de dar risada
Ou se encantavam com alguma coisa.
Pura ingenuidade. Minha e delas.
Minha madrinha, letrada que só ela
Viu meus rabiscos de aprendiz e me escreveu:
“Vejo que você é dado a poesias. É um maravilhoso dom.
Conheça Fernando Pessoa”
Citou ele e terminou assim: “ o mais é nada, Deus te abençoe.”
Foi ai que eu vi que ser poeta não era nada daquilo
Ou então não era só aquilo:
precisava de mais sustância.
Aquele negócio de às vezes arrancar as palavras bonitas lá do peito
De outra feita carregar o mundo nas costas que nem o Drummond falou.
Faz muitos anos isso
Mas eu estou pelejando até hoje
Para Beth Adão, minha irmã
Com carinho