SER POETA

Um dia, ainda rapaz de adolescência no semblante

eu cismei que podia ser poeta

Precisão de arrumar namorada, eu acho

Danei de compor versos tortos em linha reta

Achava que métrica era isso

E era toda vez que me assanhava pro lado de uma menina

Podia gostar dela ou não, o negócio era mesmo impressionar

Importância de lhe entregar umas rimas num pedaço de papel

enfeitado com cores e desenhos de flores ou de bichinhos

Eu vivia falando de dores e de amores

Das vontades que eu sabia e das que eu não sabia também.

Fraude pura?

Sei lá, tinha hora que era, tinha hora que não.

Tinha umas moças que ficavam comovidas

Não sei se de vontade de dar risada

Ou se encantavam com alguma coisa.

Pura ingenuidade. Minha e delas.

Minha madrinha, letrada que só ela

Viu meus rabiscos de aprendiz e me escreveu:

“Vejo que você é dado a poesias. É um maravilhoso dom.

Conheça Fernando Pessoa”

Citou ele e terminou assim: “ o mais é nada, Deus te abençoe.”

Foi ai que eu vi que ser poeta não era nada daquilo

Ou então não era só aquilo:

precisava de mais sustância.

Aquele negócio de às vezes arrancar as palavras bonitas lá do peito

De outra feita carregar o mundo nas costas que nem o Drummond falou.

Faz muitos anos isso

Mas eu estou pelejando até hoje

Para Beth Adão, minha irmã

Com carinho

josé cláudio Cacá
Enviado por josé cláudio Cacá em 24/04/2011
Código do texto: T2927255
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