(((((::::PÉ-DE-MOLEQUE::::)))))
São ruas de pedra que me remetem à hora de dormir. São ruas de pedra que não são de brilhante, mas são de pé-de-moleque. São doces ruas, difíceis de caminhar que nos levam aos tropeços a visitar igrejas, a passear por praças, a cochilar em pousadas, a ladear carroças, a comprar artesanatos e doces: comer pé-de-moleque e voar em asas de borboletas despidas.
Uma canção antiga saída pelas janelas azuis, guia os passantes pelas ruas de pedra, água e fogo nas andanças matutinas, vêem-se os pássaros imortais, vêem-se cães e gatos irmanados neste éden urbano. À beira mar, o vento de mãos macias está sempre disposto a acariciar a pele das moças e a saudar os românticos que recitam poemas roubados de algum poeta desconhecido, talvez os meus ou os seus.
Nos passeios estão os fantasmas dos piratas. Agora, mortos, são amigos das crianças e quando juntos desejam um irônico “vida longa” ao brindar com canecos de vinho e garrafas de rum e repetem piadas insólitas aprendidas com seus papagaios. Reino incandescente de pura fantasia, olhos de ternura e inocência que contagia.
Casarões de amores partidos, retratos mofados de lembranças não mais lembráveis...qualquer vestígio de história presa em teias além dos tijolos de barro, das rachaduras do passado tão passado que nem sabemos.
Sinto em mim, uma felicidade infantil e um luto de viúva, e chego a desfrutar de uma alienação meritosa, de um anacronismo feliz, e me permito despregar-me do tempo dentro do próprio tempo. A viver momentos intensos, da leveza em toque de mãos, dum sussurrar que inquieta o coração.
Fica a Cidade, vão-se as pessoas: ontem chegaram e partiram valentes navegantes, hoje chegam e partem distintos turistas. Quem chegará amanhã?