SORVO O VINHO...

Quem sabe o meu verso não sabe nada de mim.

Nem sabe que no meu universo não tem toque

de clarim e que as balas não são apenas festim.

Quem sabe o meu verso não sabe nada de mim.

Não sabe que padeço, que vou imerso num mar

adverso, onde não há orquestra nem camarim...

Quem sabe o meu verso não sabe nada de mim.

Se sou perverso, se passo mudo ou se converso

com passarinho ou manequim, não sabe o terço

que sai nas minhas falas sussurradas, se no fim,

sou bom, disperso ou ruim. Sabem nada de mim.

Inda bem, assim no verso inverto o meu inverso.

Quem sabe o meu verso não sabe nada de mim.

Passo diverso de todos nas letras, nesse jardim

controverso não pousa beija-flor, são espinhos

que se prevalecem. Na mente do poeta segue o

verso submerso, cobiçando tecer o fim, parece

motim de termos revoltos num poema sem-fim.

Quem sabe o meu verso não sabe nada de mim.

Se sou mais arlequim ou querubim. Sigo assim,

Absterso dos meus pecados; nem vodca ou gim.

Sorvo o vinho do cálice nas noites de pregação.

Não falo nada de nada, tergiverso letras soltas,

Que são melodias no bandolim que há em mim.

IVAN CORRÊA
Enviado por IVAN CORRÊA em 21/04/2011
Reeditado em 21/04/2011
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