SORVO O VINHO...
Quem sabe o meu verso não sabe nada de mim.
Nem sabe que no meu universo não tem toque
de clarim e que as balas não são apenas festim.
Quem sabe o meu verso não sabe nada de mim.
Não sabe que padeço, que vou imerso num mar
adverso, onde não há orquestra nem camarim...
Quem sabe o meu verso não sabe nada de mim.
Se sou perverso, se passo mudo ou se converso
com passarinho ou manequim, não sabe o terço
que sai nas minhas falas sussurradas, se no fim,
sou bom, disperso ou ruim. Sabem nada de mim.
Inda bem, assim no verso inverto o meu inverso.
Quem sabe o meu verso não sabe nada de mim.
Passo diverso de todos nas letras, nesse jardim
controverso não pousa beija-flor, são espinhos
que se prevalecem. Na mente do poeta segue o
verso submerso, cobiçando tecer o fim, parece
motim de termos revoltos num poema sem-fim.
Quem sabe o meu verso não sabe nada de mim.
Se sou mais arlequim ou querubim. Sigo assim,
Absterso dos meus pecados; nem vodca ou gim.
Sorvo o vinho do cálice nas noites de pregação.
Não falo nada de nada, tergiverso letras soltas,
Que são melodias no bandolim que há em mim.