HORA CERTA
Quando é a hora certa?
quando é que o calo aperta
e a mão entorta o gesto?
A hora em que me dirás
o que sempre soube
saber que nada me coube
a não ser esta palavra
que se furta como inimiga
e tão cruel me avisa
que ainda haverá vida
e de algum modo
ou jeito será vivida
que o até agora não era
ou era
o que era enfim?
Quando a hora certa chegar
que de certa só a palavra dita
eu serei uma flor morta
uma alma maldita
e nenhuma verdade poderá
mais tornar à vida
o que foi condenado
ao degredo
o que foi relegado
para um tempo
de conveniência vazia
esta hora certa fictícia
subrepticia
é o engodo que me encravas
na pele
para que eu rasteje ainda
e tua covardia se veja livre
de incômodos acertos
até que nenhuma hora mais
exista que me diga respeito
e me dirás, ah, com efeito...
isso foi há tanto tempo...
O que queres com tantos ais?