Cristal
Eu era cristal...
Brilhava uma infinita vaidade.
Brilhava uma infinita alegria, cheia de esperanças.
Um dia, ouviu-se um barulho de coisa quebrada.
Mas ele dispersou tão rápido meio a multidão dos sons do mundo.
Quem a quebrou, nem sequer se importou.
Quem a quebrou, nem sequer consertou.
Houve outras mãos a querer consertar,
Mas parecia que ali, alguma coisa faltava.
Faltava a vontade, esperança, a confiança, a auto-estima, a paixão, faltava o amor.
E por anos, em qualquer estante que se punha aquele cristal...
Não havia brilho.
Ninguém há de querer coisa estragada.
Restou o desprezo, restou a rejeição, restou a impaciência.
Em cada caco de vidro, se via sentimentos desconexos: dor, a mágoa, o rancor, a ferida, a tristeza, raiva.
Chegou-se por fim a pensarem: Não há mais jeito.
Chegou-se por fim a pensarem: Não há como consertar mais.
Mas um dia... Ah um dia...
Os cacos se perderam... a dor, a mágoa, o rancor, a ferida , a tristeza e a raiva... se perderam...
Alguém pôs a ajuntar... Não havia todas as partes...
Mas não se sabe porquê, essas foram aparecendo com o tempo.
Se via de volta um cristal... Não tão brilhante como antes, mas ainda sim com brilho.
Podia-se já ver a alegria, a confiança voltava, a vontade, a auto-estima, a paixão...
Via se aproximando a esperança...
E talvez, quem sabe... O amor.