ÚLTIMAS LUZES
Não durmo e a noite fala comigo no vento
Na luz difusa dos postes longos e curvados
Como cabeças cansadas com seus olhos baixos
Perscrutando a solidão dos automóveis.
Os carros zunem grávidos de pessoas que se vão
Sem saber que eu estou aqui, toda noite
Velando seus corpos de mortos-vivos.
Elas passam e sorriem, choram ou fecham os vidros
No ar condicionado sob os acordes da noite
Que costumava ser minha.
Eu estou aqui e os vejo pela madrugada
Incessantes, uns atrás dos outros
Cegos!
Não me atropelem em seus voos solos
Não destruam meu corpo estendido sobre o asfalto liso
Não afoguem minha noite em seus faróis
Quero ver a luz da Lua, quero a noite escura e silenciosa
Da minha infância quando era criança e ria.